quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Planos

Acordei.
Finalmente terminei a escola,
entrei então, na universidade de meus sonhos.
Cursei os caminhos tortuosos do direito,
fui a festas, namorei, estudei arduamente.
Enfim, graduei-me.
Trabalhei um pouco, pois a prática...
ela trás algo parecido com perfeição.
Ganhei, perdi, apostei no animal errado
e isso me fazia lembrar que daquela fez,
a besta era eu.
Mas também apostei no animal certo:
a fera que há em mim.
Fiz outros cursos e concursos,
andei entre 'logias' e 'sofias'.
Mas não só trabalhei a mente:
viajei, conheci, ri. Até casei.
Desta vez me fixei.
Filhos, muitos filhos!
Um Paulo, um José, quem sabe um João,
continuei trabalhando para garantir-lhes o pão.
Ensinei onde sempre quis ensinar,
para quem sempre quis ensinar.
Tive a oportunidade tornar à casa
com as costas pesadas de títulos
e o coração aliviado de modéstia.
Nem que seja a falsa modéstia.
Perto de meus oitenta anos,
aposentei os serviços oficiais
e passei a ter a escrita como ofício.
Levantei-me, banhei-me, vesti-me...
e o dia estava apenas começando.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A Semana

De segunda a segunda eu falo,
na terça eu hablo.
De lua em lua eu trabalho,
e é de sol em sol que eu descanso
com a feliz fadiga que me é o canto.
Quase todo dia eu conto
as nem tão felizes histórias de um mais um.
Divido minhas horas em frações infinitesimais
e continua a quarta a não acabar jamais!
Na quinta, então, eu respiro:
dou meu jeito, me viro.
Porém, nesse dia, à noite eu espero
a sexta-feira, dia em que todos ficam
sem eira nem beira.
Aos sábados eu assisto o dia
passar num meio de emoção e tarefa:
um risco.
Então chega o domingo e nele eu morro,
me desespero, peço socorro!
E mesmo assim não me preocupo,
pois ainda estou no meio de março
e na segunda-feira eu renasço.