terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Soneto ao chope

Tu és divindade suprema do bar!
Tu, deus-chope, inebria-nos com tua aura dourada,
Mata-nos a sede com tua liquidez gelada
Causando suspiros de saciedade: ah!

Nesta religião boêmio-politeísta
Junto ao filé, batata e macaxeira,
Cujo culto é sempre à sexta-feira,
O chope é a deidade altruísta!

Damos o primeiro gole ao santo
Depois, o chope não distingue ninguém:
Bonito, feio, atleta ou manco

Ele trata a todos muito bem!
Agora, ergam os copos um tanto:
Um brinde ao chope e amém!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Manaus, AM


Gosto muito dessas coisas:
Tucumã, pupunha e açaí.
Não sei ser outra coisa!
Sei somente ser daqui.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Sinceridade

Tudo acabou do nada:
Os filmes, o teatro, os olhares, o luar
que víamos às sextas na varanda do bar.
Separaram-se as mãos até então dadas.

Foi um sorrisinho no canto da boca,
uma tão tímida mordida nos lábios
que nem o mais inteligente dos sábios
poderia prever que serias tão louca.





Anacrônico

Amigos ou amantes?
Risonhos ou delirantes?

Já não importa se agora ou antes.



Cardiopatia

Faço poesia para um só fim:
Espantar meus infortúnios,
Deletar meus deletérios.

Acabo assim:
Tudo que sobra das horas de poesia
Torna-se quiralgia.

Tento passar a dor a escrever,
Tocar piano, cantar, viver:
Expurgar meus fantasmas,
Implodir meus miasmas.

Piorava minhas dores tudo que fazia,
Temi até uma cardiopatia...

Chamam de angústia
Mas, na verdade, são só inflamações.

Quando te contradisseres...

Me avise.
Eu já não sei se te faço bem,
Não sei se, em carícias, fui aquém -
Quem sabe não hei de ter ido bem além?


Imutável

A política do século é toda verde:
Parlamentar reciclável
Ignorando pobreza, fome e sede.

Existe mesmo sociedade sustentável?
E essa humanidade inescrupulosa...
Será que é imutável?

Primavera tão boba

És bela criatura, linda e mansa,
Que aos olhos todo verde alcança
E à pele toda alvura invade

És aurora divina e sublime
E tua existência é hediondo crime
Crime do qual tenho tanta saudade...!

No princípio, meio e fim do mundo
Nem por um segundo
Pensei em desistir de ti

Portanto, embora haja dificuldade,
Jamais sairei da luta
Que me trouxe até aqui.

Amar é um verbo de extremidades

Amar é um verbo de extremidades, tão pequeno que não se consegue imaginar a ida brusca de uma ponta a outra... O 'a' de amor de uma ponta - a da esquerda - e o 'r' de raiva da outra ponta, a da direita. Mas amando, praticando o verbo, nota-se a gangorra que ele é, a gangorra que leva as pessoas do amor à raiva e da raiva ao amor por um simples desequilibrar, ainda que sutil.

Nota-se de repente.

Num momento ela espreme teus cravos, ri das besteiras que tu falas, te encoraja a fazer coisas idiotas, como cantar bem alto no meio do saguão do aeroporto, e depois te pede, rindo, para parar, porque não acreditava que tu fosses fazer aquilo. Ela amarra teus sapatos, dá beijos no teu pescoço e ainda diz, em alto e bom som, que o teu pescoço é o seu lugar favorito do mundo.

E de repente tudo isso acaba. O riso foge do rosto como se tivesse tomado um susto. As mãos se separam... Ela evita teus abraços, te ignora, foge das tuas mãos e, se dás nela um beijo no rosto, ouves somente um "Para", seco e frio.

É como se todo aquele amor tivesse ido passear. Só que é um passeio tão triste! É como aquele pai que sai pra comprar cigarros e não volta nunca mais. Aonde foi aquele amor? Saiu pra comprar cigarros? Tu sabes que ele volta - ou esperas isso com todas as forças -, mas quando ele sai pra passear, tens o medo e a impressão de que é de vez.

E esse medo é terrível: é como o medo do estupro, como o medo da morte. E o medo da morte não é o medo de morrer, mas o medo de não poder fazer as coisas que somos capazes de fazer, de não ver nossos filhos crescerem. É esse medo que tu tens, o medo de não aproveitar todos os lindos momentos do mundo com ela, as viagens, os risos juntos, os beijos, o sexo... Tudo.

E esse medo dá-te uma dor imensa. Como a dor de uma unha sendo arrancada, talvez? Ou de pisar em um prego enferrujado com toda a força dos pés... Dor e medo. E cada vez que a mão dela foge da tua, eles crescem. Cada abraço que tu deixas de lhe dar os aumenta. Cada carinho que fazes e é recebido com desgosto te dá vontade de desistir dos teus sonhos, das tuas ambições, das tuas vontades...

Cada olhar de desprezo ou desaprovação que tu recebes dela é um olhar de morte, que faz teu alter-ego te dar um tapinha no ombro e dizer "Desiste de tudo. Quem és tu? Tu pertences aos vagabundos, aos esquecidos, aos ratos, à merda, aos vermes. Vai-te embora".

Deveria ser proibido receber esse tipo de olhar, não? Deveria ser proibido ela adormecer no teu ombro e acordar assustada ao ver que o fez e como não deveria tê-lo feito. Mas não é, e aí estás tu, chorando por não o ser.

Edição de texto

                A prosa é justificada, com margem de dois centímetros e espaçamento de um centímetro e meio.



Na

poesia,                
nada                                        
 se                    
 justifica.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Origens

Amazônida,
Não nego minhas origens:

Morei no Porto,
Com rio e mar,
Mas meu encanto era o Douro.

Saudades do rio Negro?

Já diziam os hippies

Faça amor, não faça guerra!
E quando a guerra é no amor?

Ao nos relacionarmos com alguém,
Às vezes nos relacionamos contra alguém...

Paz e amor.
Eles já sabiam:
É a melhor combinação.

Notas sobre o vinho do Porto

O vinho do Porto é como as mulheres: há de todos os tipos, cores, tamanhos e idades. Não interessa, são todos doces e inebriam com muita facilidade.

A insustentável leveza de um amor

Milan Kundera, grande autor tcheco, que me perdoe por emprestar a expressão de seu maior romance: A Insustentável Leveza do Ser.



O amor é sorriso calmo.

O amor é o entardecer à beira do rio Douro, em um banco qualquer do cais de Gaia, com a cabeça dela repousando sobre o ombro dele. O amor é quando ele a abraça em cima da ponte Dom Luís e a protege dos ventos frios que vêm do mar e passeiam pelo Vale do Douro.

O amor é silêncio.

Esse sentimento bobo, cujo 'r', dizem alguns, não desce à garganta, nada tem a ver com a garganta. O amor é silêncio: bocas que, caladas, encostam-se. No máximo o farfalhar das folhas secas no outono, ou o sopro do vento e o esfregar dos corpos. No máximo.

O amor é comédia.

Por que comédias românticas fazem mais sucesso que os dramas? Ninguém suporta um amor sombrio. Amor é se jogar de costas e esperar que o outro apanhe; e se não apanhar, que seja uma queda engraçada. É rir com o outro, rir do outro, rir pelo outro.

Amar é se importar, mas nem tanto.

Eis uma verdade mais escondida que os pecados da Igreja. Amar também é dizer "deixa pra lá": é relevar, esquecer e perdoar o que não merece importância, lembrança e rancor. Amor é mais essência que detalhe.

Amar o outro é amar a si antes.

Para amar, é preciso não saber odiar. Quem sabe odiar acaba odiando... Quando se decepciona, quando se frustra. O melhor é mandar o outro às favas e ir sorrir sozinho, mas sorrir. Ir amar a si. Não faz mal nenhum sorrir sozinho e amar a si, com isso tudo se ajeita.

Amar é perseverar.

Não é fácil amar com calma, silêncio e riso; não é fácil deixar de se importar, principalmente quando os detalhes parecem tão importantes! E nem o são... Não é fácil amar a si antes de tudo, já que sabemos tão bem nossos defeitos e exigimos e confiamos na perfeição e plenitude do outro - tão imperfeito quanto nós.

O amor é sustentar a sua leveza insustentável.

É como uma vitória, o amor. É bom, mas não é fácil. O peso da derrota assombra e amedronta. Quem é que perde? Quem é que ganha? São sempre dois, de mãos dadas. O amor é buscar a leveza, que só pode vir do equilíbrio.

Saudade.

A tradução para saudade, em línguas como italiano e francês, é nostalgia. Todo bom brasileiro sabe que há uma grande diferença entre saudade e nostalgia; parece até que só quem nasce no Brasil sente saudade: simbiose entre privilégio e maldição.

Mas saudade não é nostalgia, é outra coisa... Quem me ensinou foi o Tom Jobim, com ajuda do poetinha Vinícius, do Chico e de muitos outros. Chico, por exemplo, disse que a saudade era o revés de um parto, era arrumar o quarto de um filho que já se fora. A saudade é isso aí mesmo.

A nostalgia é diferente: é a brisa leve que dá à boca um sorriso tímido e uma memória feliz e distante; a saudade é uma vontade impossível de realizar, é a impotência que rasga o coração e faz sangrar angústias. A saudade é brisa, mas é sombria, e ao invés de dar à boca sorriso, dá apenas o sal das lágrimas que escorrem e para lá vão.

domingo, 27 de maio de 2012

Entre nós só há o mar

Não há o que temer, amor
Entre nós só há o mar...
Talvez uns peixinhos,
Uns barcos a navegar, quem sabe?
Mas essencialmente, só o mar.

E para além do mar, o que há?
Para ti, além do mar tem teu amor,
Quieto, no cais do Douro.
Para mim, além do mar há minha amada,
Inquieta no Porto Flutuante.

E é assim que somos:
- Ou melhor, que estamos! -
O teu amor aqui,
O meu amor aí,
E o mar, só o mar.

Quem nos dera ser o mar do Pacífico...
Sempre de águas verdes, claras
E, sobretudo, calmas.
Parece ter sido criado por um sambista
Tomando sua cerveja à beira do mar.

Mas conosco não podia ser assim.
O mar do Pacífico? Não...
Logo o nosso amor,
Amor de estradas esburacadas,
Curvas acentuadas,
Lombadas altas.
Com o nosso amor não haveria de ser assim,
Pacífico.

E o nosso mar é de Atlântico,
Azul, forte, violento, indomável.
Às vezes, por um desígnio dos deuses,
Ele parece calmo, zen,
E nos convida até para um vinho
(do Porto, naturalmente).
E de repente solta sua tormenta,
Seus raios, sua fúria, seus trovões.
O nosso mar é assim,
Como nossa estrada.

Mas há um detalhe...
Ainda omisso
(ou não percebido).

Se nossa estrada foi difícil,
Nosso amor foi incansávell:
Tração quatro por quatro,
Motor à diesel,
Carroceria blindada
Bancos de couro e tudo.
(Nenhum pneu furou)

Se nosso mar é violento,
Nosso amor é imbatível:
Grandes capitães,
Motor de popa, à vela, à remo,
Tudo junto e ao mesmo tempo.
(Um barco que não vira)

E assim nós vamos...
Piloto e co-piloto,
Capitão e imediato:
Um do outro.

E em breve seremos destituídos,
De todos os títulos oficiais
Do mar e das estradas.

Não vai mais haver mar,
Nem barco,
Nem estrada,
Nem quatro por quatro.

Somente eu e você,
Com amor,
Sem medo.

terça-feira, 1 de maio de 2012

A poesia sai do papel e vai para a parede

Dias

Há dias alegres e dias tristes, ponto.
Dá pra ter alegria e tristeza em dia de sol,
Alegria e tristeza em dia de chuva:
O tempo não determina nada disso.

Mas parece...
Parece que os dias chuvosos
Têm uma tal vocação
Para
A
Melancolia.

domingo, 25 de março de 2012

De verdade?

Eu sou todo seu.
Todo.
Todinho.
Duas vezes.

Faço o que você quiser!
E sabe o que eu vou ouvir em resposta?

"Não quero que você faça nada
Contra sua vontade"

O problema, meu bem,
É que você é minha vontade.

Só não me peça uma coisa:
Pra te esquecer!
Eu fico sentido
Com esse pedido.

Até porque... Sabe?
Desde que você me pediu,
Não passou um segundo
Sem que eu não conseguisse.

Prezados

Tom,
Vinícius,
Chico, o único vivo.

Escrevo-lhes como afilhado.
(De consideração)

O que eu faço?

Gosto

Gosto de expressão...
Escrever, cantar,
Tocar violão.

Gostaria de pintura,
Se eu soubesse pintar.

Gostaria de teatro,
Se eu soubesse atuar...

Gostaria de fotografar,
Se eu tivesse uma câmera!

Mas só me deram um lápis,
Sem sequer borracha,
E meus erros vão ficando por aí,
Amontoados.

Eu gosto de expressão,
Mas tem um problema:

Ela é a válvula de escape
Dos meus demônios.

Seria então um exorcismo sentimental?

Lembra?

Lembra quando tu reclamavas,
Que eu nunca havia te feito um poema?

Antes de você,
Meus poemas eram café-com-leite.
Antes de você,
Era tudo treino.

It's the real deal now, baby,
Meus poemas são todos seus.

Depois

Quando a conheci,
Era curiosidade.
Quando a beijei,
Era tesão.

Quando a joguei nua em minha cama,
Era amizade, confusão, paixão...
Mil coisas.

Quando me joguei em seus braços,
Seus carinhos,
Seus abraços... Foi amor.
É amor, não deixará de ser.

Quando voei para longe dos afagos dela,
Era vontade.

Quando escrevi poemas sobre seu sorriso,
(Sua boca, seus cabelos, tantas outras coisas...)
Era saudade.

Quando brigamos,
Foi decepção.
Dela, minha... Não sei,
Só decepção.

"Quando" é igual a "se":
Somente uma condição.
O "se" talvez nem aconteça,
O "quando" é passageiro.

E o que fica?
Não são as conjunções,
É só aquele substantivo

Que carrega consigo
A verdadeira substância das coisas:
Amor.

É preciso ser forte, é preciso ser fraco

O amor é pros fracos
O amor é pros fortes
É a fraqueza de ceder-se
E a força pra sofrer

O amor é dos loucos
Poetas, boêmios, são poucos
Que se atrevem a lutar
Pelo amor de uma mulher

E se eu um dia eu te disser:
Eu sou fraco pra ser teu
Sou forte pra proteger
Sou louco para lutar por ti

Vais ser louca como eu?
Vais ser fraca para mim?
Vais ser forte pra me aturar até o fim?

Vem, que o fim é distante
Já nem posso enxergá-lo
Tanta vida pela frente
Tanto amor para embaçá-lo

Dá-me a mão e põe de lado
Tudo o que nos põe de lado
Ama junto a mim
E só

quarta-feira, 21 de março de 2012

Amar junto

Vejo fotos, poemas, vídeos e versos
E nada mais importa...

Recordo momentos e músicas,
Relembro piadas e risos,
O sabor das comidas de certos dias...
E nada mais importa, nada.

Não importa se choveu ou se fez sol,
Não importa se o ar fresco do fim da tarde me preencheu os pulmões,
Ou se apenas o torpor cinza dos engarrafamentos...
Não importa, nada disso importa.

O que interessa é se eu estava ao teu lado:
Se chorei, que chorasse no teu colo;
Se ri, que risse das nossas bobagens;
Se sofri, que sofresse de amor;
E, por último, e de maior importância:
Se amei, que amasse junto a ti.

Se briguei? Não sei
Se fizemos muito amor? Não quero saber
Sei só que amei junto a ti,
E que junto a ti continuarei amando.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Mulheres

As mulheres mais marcantes são aquelas que nos fazem perder a fé... Em tudo.

Eu te quero

Eu te quero:
Aporrinhando a minha vida;
Fechando meus armários;
Juntando as minhas roupas;
Me falando as palavras mais cruéis...

Na verdade, tanto faz...
Tanto faz o que você fez,
Tanto faz o que eu fiz.
Eu te quero mesmo me fazendo miserável
Se só assim eu for feliz.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Tristeza que bate e fica

Se eu estou triste? Não.
Se algo me chateia? Também não.
É que, de uns tempos pra cá...

Não é que eu tenha estado triste de uns tempos pra cá;
É que de uns tempos pra cá eu virei uma pessoa triste.

Tão triste que já me conformei com isso.