domingo, 26 de dezembro de 2010

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Poesia e prosa

Poesia: ato de complicar coisas puras e simples. Prosa: ato de simplificar coisas impuras e complexas.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Paz

Se você não está em paz consigo, certamente é porque está em paz com o resto do mundo.

Raimundo Correia que me desculpe, mas...

Vai-se a primeira arara despertada...
Uma após a outra, sem pausa vão elas
Ao final da tarde, eternamente belas,
As araras voam em voltas circuladas.

Ao passar de vagos minutos vazios,
Às matas elas calmamente voltam,
Tal qual os galhos das árvores chamam
À proteção dos ventos frios.

A saudade tem morada fixa no coração,
Como têm morada na floresta as araras.
E quando saem elas para voar de passeio,

Sai a saudade para fingir que não existe.
De repente volta ela ao coração
Como à mata voltam as araras.

Auto-retrato de dentro

É inútil saber minhas virtudes de cor
Fazer várias listas, mil vezes contá-las
Quando de fato, vida minha, tu me falas
E dizes que dos egoístas sou o pior

A palavra nas ruas é de que não presto:
Este poeta? Coitado, de nada vale!
E não digo que isso seja mero detalhe,
A presteza que existe em mim é sobra, resto.

Talvez, em um inerte coração distante,
Eu até tenha o tal do mísero valor,
Mas para que perder meu tempo me explicando?

Para todos os efeitos e meus defeitos,
Tanto para meus prazeres, meus dissabores,
Eu sou só um resultado de minha dor.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Um tratado sobre amizade

Preâmbulo

Todo homem é feito de sonhos, desejos e ilusões:
E toda ilusão voa como pássaro no interminável horizonte.
Uma andorinha não faz verão:
E todas as andorinhas voam, como voam os sonhos,
Como voam os homens e as mulheres
Como devem voar juntos os amigos.


Art. 1°
Todos os nossos sonhos deverão coincidir:
Amores, profissões e hobbies diversos
Jamais dispensarão um telefonema no fim da tarde.


Art. 2°
Às nossas cabeças nunca faltará um ombro para o pranto;
Às nossas mãos sempre estará dada uma outra mão amiga,
E ao nosso coração serão imprescindíveis perdão e desculpas.

Parágrafo único: O riso não poderá deixar de ser compartilhado, assim como a angústia.


Art. 3°
Ainda que nossas vidas tomem rumos diferentes,
Fica proibido qualquer tipo de estranheza com o passar dos anos.


Art. 4°
Fica estabelecida uma punição de mil abraços e sorrisos
Àquele que se esquecer das velhas histórias e piadas.


Art. 5°
Fica terminantemente permitido que nossos filhos sejam amigos,
Que nossos netos se casem
E que vivamos para sempre em suas memórias.

Parágrafo único: Fiquem longe de nossas irmãs!


Art. 6°
Fica decretada ilegal qualquer festa na ausência de um de nós,
Assim como nosso time não joga incompleto.
(Caso contrário o jogo não é bom)


Art. 7°
A partir deste tratado,
Ratifica-se a amizade como chama inapagável
O amor como um mal incurável
E a vida como uma louca aventura em que nos metemos juntos.

(Qualquer semelhança com o Estatuto do Homem, de Thiago de Mello, é mera coincidência)

domingo, 31 de outubro de 2010

Soneto das duplas ações

Para o Gabriel

Não penses duas vezes nos carinhos dela,
Não penses duas vezes em seu coração,
Em abraços partidos, desejos em vão,
Jamais hesita em recitar aquela

Poesia velha, inacabada, fútil,
Sobre o sofrimento que a vivência traz
E a saudade que um namoro não faz
Ao inquieto pensamento inútil!

Se um dia repetires algo de vez,
Que não seja pensar, refletir,
Ou sentir calafrios à flor da tez;

Vive, sente, chora e diz:
Antes senti e cantei duas vezes,
Mas jamais me permiti ser infeliz!

sábado, 30 de outubro de 2010

Entrelinhas I

"Qualquer coisa, me liga" simplesmente significa "me liga".

Sobre solidão

O problema de estar feliz na presença dos amigos é que o menor vestígio de sua ausência já é uma infelicidade imensa.

Sobre felicidade e tristeza

Ninguém é feliz sem um pouco de tristeza.

Sobre filosofar

Filósofos são, por definição, tristes: a reflexão sempre traz à tona verdades desagradáveis.

Sobre arte e vida

Não existe isso de "a arte imita a vida" ou "a vida imita a arte". Arte e vida coexistem em mutualismo obrigatório.

Ambiguidade amazonense

- Tu me amas?
- Amo mermo!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Quem sou eu?

Sou o que os bêbados costumam chamar de poesia:
Sou aquilo do que os loucos sofrem,
Loucura, insanidade, desvaria!
Os boêmios me chamam de tontura
E, de goles em goles,
Eu vou desaparecendo em sono.

Mas também sou o amor que brota e invade a pele
Sou a sensação de flor que nasce e cresce em ti
Sou o afago, o carinho, o aperto no fundo do peito
Aquele abraço diferente, bom, sem jeito

O sorriso das piadas sem graça? Também o sou.
E o barco navegando no rio Negro?
Sou a ida e sou a volta!

Quando fico e quando vou,
Independente das margens em que me encontro,
Quem eu sou?

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Saudade da poesia

Quanta saudade da poesia!
Do trôpego e bêbado andar do amor
Dos sorrisos das mulheres sem valor,
Do verso que de minha boca partia.

Haja saudade dos silêncios discursivos,
Dos discursos inócuos, da alegria
Que invade a alma triste e fria
Dos desejos brutos, permissivos.

Quanta falta que aqui há!
Das doces sugestões libidinosas,
Fruto da deselegância dos drinques;

E das atitudes tão impetuosas
Que apenas num poema há:
Amar, cantar, sorrir, chorar...

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Cálice

Afasta de mim esses teus olhos azuis
Tão assombrosos de cruel tentação
Que fazem temerosa sensação
De boate, bar, bebida e blues

Afasta de mim teu hipócrita pudor
Tua vermelhidão de tantos rubis,
Tira de mim tuas mãos tão sutis,
Leva embora do teu corpo o calor

Afasta de mim tua mácula hedonista
Essa tua busca incessante por gozar
Afasta de uma vez, não insiste.

Afasta de mim esse cálice!
Para de torpores mil falar,
Para, por favor, cala-te!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Pergunta-se

Inspirado em Pablo Neruda e à quatro mãos com Luis.

Por que minha vida tomou esse rumo,
Se eu mesmo não sabia aonde levá-la?

Por que escolher esse caminho
Quando tantos outros me parecem mais curtos e retos?

O mundo realmente dá voltas,
Ou eu que fiquei tonto com as mudanças do mundo?

O som que eu ouço quando calo
É o sutil assobio da natureza?

Ou são os pássaros tocando bandolim,
E a natureza sopra nada mais que ventos?

Tudo mudou?
Ou eu que não percebi que nada era do jeito que eu pensava ser?

Verdadeiras são as palavras de um sábio?
Ou são mais sábias as palavras de um coração verdadeiro?

Quando um sábio fala,
Fala com o coração ou com a experiência?

Quando se descobre que o amor não é tão simples quanto nos livros,
Desiste-se da literatura ou do amor?

Quantos beijos no ouvido valem um segredo não contado?

Quantas caminhadas ao entardecer, de mãos dadas,
Fazem a distância de ida e volta ao infinito?

Os violinos têm o poder de voar,
Ou só nos dão essa vontade quando tocam?

Quando o sol dá luz ao dia,
Inicia-o com a mesma preguiça que eu?

O sol está em seu ápice ao meio-dia,
Ou minha cabeça se esquenta com os problemas da manhã?

sábado, 12 de junho de 2010

Carinhoso

Do beijo desabrochou o pranto
E do arranjo fez-se o estrago
Que num pobrezinho afago
Deu bola para o nascer de um novo canto...

Da namorada fez-se, então, a amante,
Que beijava tão mais apaixonada
E abraçava tão mais apertada
Que tornou-se amor constate.

O carinho, quando você não cuida,
Vai cambaleando...
De perna manca, coxa bamba,

Até ficar completamente alheio
Nos braços de outra
Que a gente nem sabe se ama...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Vacilos à parte...

Vacilos à parte, eu juro:
Juro por tudo mais sagrado,
De corpo e alma arrebentados
Pelo sentimento mais puro.

Deslizes que cometi, inseguro,
Foram causados por medo
De te perder tão cedo
Para as incertezas do futuro.

Se cá estou e em ti meu coração finco
É porque, ainda que vacile cruelmente,
Que deslize... É com afinco

Que tento, juro por Deus, eu tento
Ser para ti único sobrevivente
Dos naufrágios de teu contento.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Teu umbigo é um enclave

Teu umbigo é um enclave...
É território meu, somente meu,
Perdido em tanta abundância
Que são as terras tuas:
Fartas de beleza, forma e inteligência.

Teu umbigo é um enclave!
É território meu, somente meu;
É seara das mais belas flores,
Jardim dos mais lindos amores,
Cujo possuidor sou eu,
Somente eu,
apenas eu.

Teu umbigo é um enclave:
Ainda que seja somente,
Puramente,
Inexoravelmente meu,
Sabes também que eu sou todo teu
E que, por conseguinte,
Meu enclave torna-se teu.

Teu umbigo é enclave meu,
E, não sei se sabes,
Mas meu coração é enclave teu!
É um enclave que tu adquiriste
Como o meu eu adquiri.

Deves saber, contudo,
Que a todo tempo,
O tempo todo,
Eu penso em romper barreiras,
Ultrapassar fronteiras
E transgredir leis:
Com o único propósito
De expandir o teu território que é meu.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Tempo tempo tempo tempo...

O tempo não é só o tic-tac de um velho relógio de parede: ele é combustível, hélice, motor; ele é ancião, criança e adulto.
O tempo é a voz consciente que nos diz no ouvido as respostas maduras para as perguntas feitas pela vida.

Portanto, o hesitar e o titubear nada mais são que os artifícios temporais que o sábio dentro de nós pede... Visto que a essência do amor não se mostra - usualmente - em poucos segundos.

Como qualquer combustão, é necessário tempo.
É necessário combustível, hélice, motor.
E nem sempre o resultado é exato...

terça-feira, 13 de abril de 2010

Soneto da decepção justificada

Se eu te decepciono agora, querida,
É para mais tarde não sofreres ainda mais,
É decepção como mensagem de paz:
Se o faço, é para amenizar a dor da partida.

Quando achas que menti, engana-te!
Por mais falso que soe o discurso que disse,
Por maior que seja o grau de minha canalhice,
De uma sina bem pior eu te protegi.

É que não posso encarar pior mentira...
Não é do meu feitio viver
Sob o jugo do amor hipócrita.

Merecemos o que o acaso nos atira!
Não o nosso caso de querer-ser,
Não a nossa pobre e cruel anetoda.

sábado, 27 de março de 2010

Eu te escrevi um poema...

E nele havia um endereço...
Por que moras tão longe?,
Eu perguntei naquela carta...
Ai ai
Distância
Coisa chata.

Soneto de Lucia

Paris levou embora minha mais linda cantora!
Causou em mim a mais profunda das ausências:
E com saudade deste coração-querência,
Tentei, em vão, ignorar que ela se fora.

Perdi-me então num imenso abismo social
Político, geográfico, semântico, burguês...
O amor na minha língua é diferente do francês.
Ficou o espasmo da proximidade musical.

Ficou o verso, a bossa, a imaginação fluente
- que dizia "a minha tez, a tua, a nossa" -
E os agrados tão distantes, gigânticos,

Separados por um Oceano Atlântico
E apertados por acordes diferentes,
Quentes, dissonantes, quentes...

segunda-feira, 8 de março de 2010

Metamorfose

No momento em que o amor vira ódio,
Não preciso de jazz ou de poesia
Preciso de grito, rock'n'roll e heresia.
Hei-de subir campeão neste pódio.

Preciso do grito no ouvido dela,
Com a única intenção de causar dor,
Por para fora todo o extinto ardor
Destilado com as mentiras mais belas.

Preciso do rock'n'roll para abafar os murros
Que todas as paredes receberão,
Dos quais minhas mãos não se arrependerão,
Ainda que delas escorra um sangue surdo e mudo.

Preciso desesperadamente de heresia,
Pois nada que é sacro e são
Se há de se comparar com isso tudo.

Piada sombria

Eu me esquivo de balas,
Agulhas, facas e navalhas:
Mas, ainda que seja furtivo,
Caio sob o jugo de meu humor
Auto-destrutivo.

Ou seria meu amor?

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sina de servo

Na hierarquização do amor, eu sempre fui bobo-da-corte...
Otário, banana, palhaço:
Esse personagem de humor pobre, escasso
Que só vivia para a diversão da sua rainha...
Desvairada, sádica:
Maria, a louca,
Perturbadoramente tresloucada.

Senhora de tantos reis e reinos,
Bandida, sádica, bem-amada:
Deixa-me entrar no teu palácio,
Liberta-me da sina já traçada.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O fundo do poço

Ao olhar para o fundo do poço
Faz-se um esboço:
Da vida de moço à vida de idoso.

Cuidado para não cair.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

À amiga

Vê! Por vezes nos tacharam de amantes!
Errantes, sem dúvida, sempre errantes...
E sempre nos acharam contentes:
Ora determinados,
Ora imprudentes,
Mas sempre indubitavelmente contentes.

Jamais permanecemos calados,
Mesmo que nem sempre estivéssemos falantes.
Apenas, ao apoio mútuo, ficamos viventes:
Eu, sendo teu fiel amigo,
E tu, amiga minha, sendo meu fiel abraço

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Nem um, nem outro

Eu tenho certeza de tudo,
ou sou eu uma dúvida por completo?
Minha seriedade é séria,
ou sou apenas sério àqueles para quem tenho medo de sorrir?
Faço eu genuína poesia,
ou escrevo poemas para garotas que se iludem facilmente?
Me falta chegar a paixão,
ou eu que não a deixo chegar a mim?

Sou tudo o que na verdade sou,
ou apenas parte do que imaginam de mim?
Ainda preciso achar meu norte,
ou a bússola de minha vida aponta para o caminho errado?
Afinal de contas:
Eu tenho tantas facetas, ou sou inteiramente uma farsa?

sábado, 16 de janeiro de 2010

Poemeto em francês

Non, je ne regrette rien...
Je ne regrette pas de fumer, je ne regrette pas de boire,
Je ne regrette pas de respirer l'air sale du monde.
Je ne regrette pas, non.

Mais oui, je me regrette d'avoir aimé...
Parce que l'amour est tout sur regrettement,
L'amor et le regrettement sont la même chose.

Vous en regrettez?
Vous en avez déjà regretté? Experimentez.

(Par inspiration de la musique "Non, je ne regrette rien")