sábado, 27 de março de 2010

Eu te escrevi um poema...

E nele havia um endereço...
Por que moras tão longe?,
Eu perguntei naquela carta...
Ai ai
Distância
Coisa chata.

Soneto de Lucia

Paris levou embora minha mais linda cantora!
Causou em mim a mais profunda das ausências:
E com saudade deste coração-querência,
Tentei, em vão, ignorar que ela se fora.

Perdi-me então num imenso abismo social
Político, geográfico, semântico, burguês...
O amor na minha língua é diferente do francês.
Ficou o espasmo da proximidade musical.

Ficou o verso, a bossa, a imaginação fluente
- que dizia "a minha tez, a tua, a nossa" -
E os agrados tão distantes, gigânticos,

Separados por um Oceano Atlântico
E apertados por acordes diferentes,
Quentes, dissonantes, quentes...

segunda-feira, 8 de março de 2010

Metamorfose

No momento em que o amor vira ódio,
Não preciso de jazz ou de poesia
Preciso de grito, rock'n'roll e heresia.
Hei-de subir campeão neste pódio.

Preciso do grito no ouvido dela,
Com a única intenção de causar dor,
Por para fora todo o extinto ardor
Destilado com as mentiras mais belas.

Preciso do rock'n'roll para abafar os murros
Que todas as paredes receberão,
Dos quais minhas mãos não se arrependerão,
Ainda que delas escorra um sangue surdo e mudo.

Preciso desesperadamente de heresia,
Pois nada que é sacro e são
Se há de se comparar com isso tudo.

Piada sombria

Eu me esquivo de balas,
Agulhas, facas e navalhas:
Mas, ainda que seja furtivo,
Caio sob o jugo de meu humor
Auto-destrutivo.

Ou seria meu amor?