quinta-feira, 19 de julho de 2012

Origens

Amazônida,
Não nego minhas origens:

Morei no Porto,
Com rio e mar,
Mas meu encanto era o Douro.

Saudades do rio Negro?

Já diziam os hippies

Faça amor, não faça guerra!
E quando a guerra é no amor?

Ao nos relacionarmos com alguém,
Às vezes nos relacionamos contra alguém...

Paz e amor.
Eles já sabiam:
É a melhor combinação.

Notas sobre o vinho do Porto

O vinho do Porto é como as mulheres: há de todos os tipos, cores, tamanhos e idades. Não interessa, são todos doces e inebriam com muita facilidade.

A insustentável leveza de um amor

Milan Kundera, grande autor tcheco, que me perdoe por emprestar a expressão de seu maior romance: A Insustentável Leveza do Ser.



O amor é sorriso calmo.

O amor é o entardecer à beira do rio Douro, em um banco qualquer do cais de Gaia, com a cabeça dela repousando sobre o ombro dele. O amor é quando ele a abraça em cima da ponte Dom Luís e a protege dos ventos frios que vêm do mar e passeiam pelo Vale do Douro.

O amor é silêncio.

Esse sentimento bobo, cujo 'r', dizem alguns, não desce à garganta, nada tem a ver com a garganta. O amor é silêncio: bocas que, caladas, encostam-se. No máximo o farfalhar das folhas secas no outono, ou o sopro do vento e o esfregar dos corpos. No máximo.

O amor é comédia.

Por que comédias românticas fazem mais sucesso que os dramas? Ninguém suporta um amor sombrio. Amor é se jogar de costas e esperar que o outro apanhe; e se não apanhar, que seja uma queda engraçada. É rir com o outro, rir do outro, rir pelo outro.

Amar é se importar, mas nem tanto.

Eis uma verdade mais escondida que os pecados da Igreja. Amar também é dizer "deixa pra lá": é relevar, esquecer e perdoar o que não merece importância, lembrança e rancor. Amor é mais essência que detalhe.

Amar o outro é amar a si antes.

Para amar, é preciso não saber odiar. Quem sabe odiar acaba odiando... Quando se decepciona, quando se frustra. O melhor é mandar o outro às favas e ir sorrir sozinho, mas sorrir. Ir amar a si. Não faz mal nenhum sorrir sozinho e amar a si, com isso tudo se ajeita.

Amar é perseverar.

Não é fácil amar com calma, silêncio e riso; não é fácil deixar de se importar, principalmente quando os detalhes parecem tão importantes! E nem o são... Não é fácil amar a si antes de tudo, já que sabemos tão bem nossos defeitos e exigimos e confiamos na perfeição e plenitude do outro - tão imperfeito quanto nós.

O amor é sustentar a sua leveza insustentável.

É como uma vitória, o amor. É bom, mas não é fácil. O peso da derrota assombra e amedronta. Quem é que perde? Quem é que ganha? São sempre dois, de mãos dadas. O amor é buscar a leveza, que só pode vir do equilíbrio.

Saudade.

A tradução para saudade, em línguas como italiano e francês, é nostalgia. Todo bom brasileiro sabe que há uma grande diferença entre saudade e nostalgia; parece até que só quem nasce no Brasil sente saudade: simbiose entre privilégio e maldição.

Mas saudade não é nostalgia, é outra coisa... Quem me ensinou foi o Tom Jobim, com ajuda do poetinha Vinícius, do Chico e de muitos outros. Chico, por exemplo, disse que a saudade era o revés de um parto, era arrumar o quarto de um filho que já se fora. A saudade é isso aí mesmo.

A nostalgia é diferente: é a brisa leve que dá à boca um sorriso tímido e uma memória feliz e distante; a saudade é uma vontade impossível de realizar, é a impotência que rasga o coração e faz sangrar angústias. A saudade é brisa, mas é sombria, e ao invés de dar à boca sorriso, dá apenas o sal das lágrimas que escorrem e para lá vão.