domingo, 22 de fevereiro de 2009

Dos Amigos

Amigos são as piores pessoas do mundo.
Sem eles, seríamos os melhores generais, os melhores presidentes, os melhores criminosos, os melhores filhos, os melhores pais, as melhores mães, os melhores irmãos...
Sem eles, indubitavelmente seríamos todos os melhores alunos de uma classe que nem precisaria de professor, disciplina, controle, silêncio.
Sem eles nós seríamos mais saudáveis, mais fortes, mais inteligentes, mais dedicados, solteiros.
O que seríamos sem nossos amigos?
Seríamos completos por fora,
E vazios por dentro.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Vilarejo Íntimo

Dedicado.

No íntimo vilarejo de mim
Conto nos dedos todos os meus desejos.
Desejo de estar, de não sentir medo
Do íntimo vilarejo que há aqui.

Quando entro nas casas de meu vilarejo
Procuro um sentido, um ego perdido,
Escancaro as janelas dos sonhos partidos
E nada vejo senão ruelas daquilo que rejo.

Na última barca deixando o vilarejo
Vejo na água tez que desconheço
E tenho comigo derradeiro lampejo:

Tiro de mim o mais ignoto defeito
E inconscientemente o afogo,
Trazendo à tona alguém sabidamente imperfeito.

Só Em Caso de Incêndio

As intimidantes labaredas de fogo cuspiam toda a sua ira pelos ares daquela vizinhança onde havia, há poucas horas, uma bela residência. A estrutura de madeira gritava por socorro em um irritante farfalhar que parecia ser um réquiem para o homem que ali morava. Homem não mais; apenas a desesperada carne consumida por calor... Algo que virá a se tornar um frio vaso de cinzas.
O espetáculo das ardentes chamas reluzia em fascinados olhos à espera de qualquer ato final que envolvesse a aflição do homem e a fúria do ardor que tudo suprimia; a fumaça cinzenta dali proveniente pincelava o negro céu com estúpidos tons de agonia e soprava uma baforada que desencadeava sinfonias de tosse regadas à lagrima.
Não havia lágrima suficiente para apagar brasa, angústia ou raiva.
Não havia ombro o bastante para enxugar tanto choro.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Mudanças

Por que mudaste, querida?
Eras tão complexa, tão temida.
Não chegava ao teu pé o requinte francês,
Nem tanto a simplicidade do inglês.
Agora, na rubrica de um analfabeto,
Perdeste teu soneto predileto.
(Seja lá qual for)

Das Conversas que Não Terminam

Os amigos beberão até que não mais possam
Defender suas incríveis ideias;
Os políticos inutilmente gritarão.
Aqui ou lá do outro lado do mundo,
A conversa para:
Ao som de bomba ou ao som de bala;
Para sem ponto final toda a oratória.
Conseguirá alguém terminar a fala?
Haverá, então, uma solução?

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Da Água que Cai

Sempre que chove
A alma chora.
Late como cão sem dono;
Dói... e ela adora.
Na incansável busca por qualquer
- quem sabe? -
inexistente tristeza,
Ela acha num poeminha falido
Um fiapo de beleza!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Nova Ordem

Se ideia não tem mais acento
Como formulo eu o pensamento?
Calma, meu bem, não tema;
Ainda estamos aqui, o que caiu foi o trema.
Agora que tudo é menos complicadinho
É só tirar o hífen
- e ficamos maisjuntinhos.

Teorema

A gente não é uma equação de matemática:
Muitas vezes a teoria difere à prática...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Caderno

Meu caderno de rascunhos é um oceano,
Um infinito de amores imperfeitos:
Amores de um só
E cupidos com defeito.

Minha pasta de músicas está cheia:
Cheia de bossas incompletas;
Baladas inacabadas;
Sonetos de mil estrofes.

Minha virgem dos olhos de menta tarda a chegar
E a me dar um beijo com gostinho de cânfora
Que eu nunca sentirei.

... E a me puxar para o seu abraçar:
Abraço com aroma de sândalo
Que eu nunca abraçarei.