quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Manaus, AM


Gosto muito dessas coisas:
Tucumã, pupunha e açaí.
Não sei ser outra coisa!
Sei somente ser daqui.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Sinceridade

Tudo acabou do nada:
Os filmes, o teatro, os olhares, o luar
que víamos às sextas na varanda do bar.
Separaram-se as mãos até então dadas.

Foi um sorrisinho no canto da boca,
uma tão tímida mordida nos lábios
que nem o mais inteligente dos sábios
poderia prever que serias tão louca.





Anacrônico

Amigos ou amantes?
Risonhos ou delirantes?

Já não importa se agora ou antes.



Cardiopatia

Faço poesia para um só fim:
Espantar meus infortúnios,
Deletar meus deletérios.

Acabo assim:
Tudo que sobra das horas de poesia
Torna-se quiralgia.

Tento passar a dor a escrever,
Tocar piano, cantar, viver:
Expurgar meus fantasmas,
Implodir meus miasmas.

Piorava minhas dores tudo que fazia,
Temi até uma cardiopatia...

Chamam de angústia
Mas, na verdade, são só inflamações.

Quando te contradisseres...

Me avise.
Eu já não sei se te faço bem,
Não sei se, em carícias, fui aquém -
Quem sabe não hei de ter ido bem além?


Imutável

A política do século é toda verde:
Parlamentar reciclável
Ignorando pobreza, fome e sede.

Existe mesmo sociedade sustentável?
E essa humanidade inescrupulosa...
Será que é imutável?

Primavera tão boba

És bela criatura, linda e mansa,
Que aos olhos todo verde alcança
E à pele toda alvura invade

És aurora divina e sublime
E tua existência é hediondo crime
Crime do qual tenho tanta saudade...!

No princípio, meio e fim do mundo
Nem por um segundo
Pensei em desistir de ti

Portanto, embora haja dificuldade,
Jamais sairei da luta
Que me trouxe até aqui.

Amar é um verbo de extremidades

Amar é um verbo de extremidades, tão pequeno que não se consegue imaginar a ida brusca de uma ponta a outra... O 'a' de amor de uma ponta - a da esquerda - e o 'r' de raiva da outra ponta, a da direita. Mas amando, praticando o verbo, nota-se a gangorra que ele é, a gangorra que leva as pessoas do amor à raiva e da raiva ao amor por um simples desequilibrar, ainda que sutil.

Nota-se de repente.

Num momento ela espreme teus cravos, ri das besteiras que tu falas, te encoraja a fazer coisas idiotas, como cantar bem alto no meio do saguão do aeroporto, e depois te pede, rindo, para parar, porque não acreditava que tu fosses fazer aquilo. Ela amarra teus sapatos, dá beijos no teu pescoço e ainda diz, em alto e bom som, que o teu pescoço é o seu lugar favorito do mundo.

E de repente tudo isso acaba. O riso foge do rosto como se tivesse tomado um susto. As mãos se separam... Ela evita teus abraços, te ignora, foge das tuas mãos e, se dás nela um beijo no rosto, ouves somente um "Para", seco e frio.

É como se todo aquele amor tivesse ido passear. Só que é um passeio tão triste! É como aquele pai que sai pra comprar cigarros e não volta nunca mais. Aonde foi aquele amor? Saiu pra comprar cigarros? Tu sabes que ele volta - ou esperas isso com todas as forças -, mas quando ele sai pra passear, tens o medo e a impressão de que é de vez.

E esse medo é terrível: é como o medo do estupro, como o medo da morte. E o medo da morte não é o medo de morrer, mas o medo de não poder fazer as coisas que somos capazes de fazer, de não ver nossos filhos crescerem. É esse medo que tu tens, o medo de não aproveitar todos os lindos momentos do mundo com ela, as viagens, os risos juntos, os beijos, o sexo... Tudo.

E esse medo dá-te uma dor imensa. Como a dor de uma unha sendo arrancada, talvez? Ou de pisar em um prego enferrujado com toda a força dos pés... Dor e medo. E cada vez que a mão dela foge da tua, eles crescem. Cada abraço que tu deixas de lhe dar os aumenta. Cada carinho que fazes e é recebido com desgosto te dá vontade de desistir dos teus sonhos, das tuas ambições, das tuas vontades...

Cada olhar de desprezo ou desaprovação que tu recebes dela é um olhar de morte, que faz teu alter-ego te dar um tapinha no ombro e dizer "Desiste de tudo. Quem és tu? Tu pertences aos vagabundos, aos esquecidos, aos ratos, à merda, aos vermes. Vai-te embora".

Deveria ser proibido receber esse tipo de olhar, não? Deveria ser proibido ela adormecer no teu ombro e acordar assustada ao ver que o fez e como não deveria tê-lo feito. Mas não é, e aí estás tu, chorando por não o ser.

Edição de texto

                A prosa é justificada, com margem de dois centímetros e espaçamento de um centímetro e meio.



Na

poesia,                
nada                                        
 se                    
 justifica.