segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Aftertaste

Tem coisa que trava na língua, tem coisa que trava no coração.
Vinho trava na língua; a gente come um queijo, joga conversa fora, e o amargor permanece.
Amor trava no coração; a gente dança outros tangos, assiste a outros filmes, namora em praças diferentes...
É um aftertaste adstringente não só pelo travor que abrange o corpo todo, mas pelo jugo ante o qual ficamos submetidos inconscientemente;
É um sabor cáustico, não só cáustico por ficar - às vezes, durante anos - se arrastando pelas papilas gustativas do coração, mas cáustico por ser mordaz e queimar lentamente, ironicamente;
É, acima de tudo, de lixívia, pois cai-se na barrela e se fica com a reputação repleta de nódoas e máculas, resultantes de atritos passados.
Cáustico, adstringente ou de lixívia, não é à toa que os nomes do travoso sabor de amar são tão coerentes em seus outros significados.
Ah, e no final... O amargor permanece.

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